A BENÇÃO DO SILÊNCIO

Sex, 30 de Setembro de 2011 23:24 André Oliveira
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por André Oliveira

Aluno do Seminário Teológico Betel / Advogado

Tenho andado bastante de moto nos últimos dias, de Caxias a Angra, de Santa Cruz a Nilópolis, enfim, tenho sido um verdadeiro peregrino de duas rodas. Na maioria das vezes eu ando ouvindo o MP3, pois a ausência de som ou de vozes me remete a solidão e solidão é algo ruim. Porém, existe outra sensação, ou estado de privacidade, isolamento que não é necessariamente ruim, muito pelo contrário, às vezes é o momento que precisamos para crescermos em nossa caminhada espiritual, a saber, o estado de Solitude.

As escrituras narram a história de um certo camarada chamado Jó, e existe um versículo do livro de Jó que, na minha opinião, é um dos mais extraordinários da Bíblia: Jó 42:5 (NVI) “Meus ouvidos já tinham ouvido falar a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram”. Jó havia perdido tudo: filhos, riquezas, saúde, amigos, moral, respeito, esposa, em função de uma batalha cósmica em que sob a sua fidelidade estava investida a ideia de que as pessoas podem amar a Deus pelo que Ele é e não pelo que Ele dá. Após ficar muito tempo em silêncio, querer respostas e não as obtê-las de maneira convincente, esperar nos amigos (que mais atrapalharam do que o ajudaram), e passados 40 capítulos do Livro, Deus responde a Jó, e no fim ele chega a conclusão de que o momento de solitude que passou, o fez conhecer verdadeiramente o Senhor.

Sabe queridos, muitas vezes passamos por desertos em nossas vidas, situações ruins que parecem não ter fim, ou momentos em que pensamos que Deus foi embora ou que Ele não está nos ouvindo, e aí, por mais que estejamos rodeados de pessoas, invariavelmente acabamos nos sentindo sós. O problema não é o fato de Deus não dizer nada, e sim o de confundirmos o silêncio dEle com sua ausência. Precisamos aprender que o silêncio de Deus também é resposta, que o fato de, devido as circunstâncias, eu não conseguir sentir a presença de Deus não significa que a presença dEle não esteja manifesta ali, e que certamente o problema é a minha percepção dela.

Quando aprendermos a não confundir as coisas e fizermos de nosso período de silêncio um período de solitude e não de solidão, nós compreenderemos que o Senhor se agrada de que o busquemos ainda que não sintamos sua presença, de que eu não devo me interessar pelo que Deus pode fazer pra mim e sim no que Ele é pra mim. Só que quando não sentimos a presença de Deus nos achamos no direito de tirar nossa confiança de cima de sua pessoa e colocá-la em diversos outros lugares, e justificamos isso com fundamento no “silêncio de Deus”.

Jó compreendeu no silêncio de sua solitude que não importava o que as circunstâncias diziam, o que os amigos diziam, o que sua própria mente dizia e sim o que o Senhor diz, e se Ele diz que “estarei convosco todos os dias”, estes também englobam os dias que não ouvimos a sua voz, acredito que as cordas vocais de Deus não estejam com problemas, de repente vale tentar ouvir a sua voz com o coração e não com os ouvidos e, quem sabe assim, possamos não apenas ouvi-lo, mas enxergá-lo.

Tiremos, pois, a tampa da Solitude. Na paz de Cristo Jesus.

Sem. André Oliveira