“...SUPORTO TUDO, SÓ NÃO SUPORTO INGRATIDÃO...”

André Oliveira Espiritual - Tirando a Tampa
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Se alguma vez você já presenteou, ou já fez o bem a alguma pessoa e a mesma sequer agradeceu, você sabe do que estou falando, falo daquela pessoa que você cede o lugar no ônibus e ela sequer olha pra você, ou daquele caixa que lhe deu o troco a mais e você devolve para ser ignorado em seguida.

Contudo, a despeito da minha aversão a ingratidão,chego a conclusão de que sou alguém deveras ingrato, e para ilustrar, conto a seguinte experiência: Há umas duas semanas me aconteceu um fato bem interessante, fui ao seminário para a aula de quinta-feira, de moto e com meu capacete de caveira, como sempre fazia e ao chegar eis que havia um mendigo na porta do seminário, e pediu um prato de sopa.

Prontamente o pastor foi pegar o prato de sopa e eu fiquei pensando: “coitado do mendigo, muitas vezes satisfazemos as necessidades momentâneas das pessoas e elas não tem satisfeitas suas necessidades mais profundas, as da alma e do espírito...” e subi pra minha aula.

Ao sair, eis a surpresa: Furtaram meu capacete de caveira!!! Fui prontamente a secretaria pra saber o que havia ocorrido, quando o pastor que lá estava me disse: “Ah irmão, enquanto o pastor foi pegar a sopa, alguém abriu o portão e o mendigo levou seu capacete...”. Imediatamente me veio a mente a idéia de que o mendigo que eu havia demonstrado tanta compaixão (ou melhor, pseudo-compaixão, porque pensamentos sem ações são apenas analgésicos para nossa consciência), foi um ingrato.

Subi na minha moto ainda atordoado, (eu realmente gostava do capacete de caveira), e fui do Rocha até Realengo refletindo no que aconteceu, e depois de passar por uma Blitz que nunca tem (só no dia que eu estou sem capacete) e ter de desviar o curso pra uma favela, afim de não ter a moto apreendida, e inobstante o erro de andar sem capacete, comecei a refletir sobre como este dia havia sido difícil, afinal, meu telefone havia sido cortado, eu estava hiper cansado, meu pé estava doendo, eu tinha tido um dia difícil no trabalho e ainda roubaram meu capacete.

Mas o Espírito Santo gosta de nos surpreender, e Ele me fez refazer todos os passos do meu dia, e lembrar de que eu acordei e estou vivo, eu levantei da minha cama (tenho uma casa), eu dei bom dia a minha mãe (tenho mãe), eu tomei banho e escolhi qual casaco usar (eu tenho mais de um casaco), eu peguei a minha moto (eu tenho uma moto), fui trabalhar (tenho um trabalho), meu pé doeu (eu tenho um pé, e minhas terminações nervosas funcionam), fui ao seminário (eu tenho um chamado e estou me preparando pra cumpri-lo da melhor forma possível), estou voltando pra casa e vou jantar (tem comida na minha casa), sem capacete e nada me aconteceu (milhares de pessoas morrem todo dia no trânsito), e roubaram meu capacete (e não sofri nenhum tipo de violência, tão comum hoje em dia), e por fim, eu sou salvo em Cristo Jesus, e vivo com a esperança da vida eterna.

Após o breve lembrete do que Ele tem me dado, não pude deixar de reparar quantas vezes pensamos no que não temos e gostaríamos de ter, e muitas vezes ignoramos o que nós temos e muitos não tem, e dariam tudo para ter.

Sabe queridos, eu tenho tanta coisa, e aquele mendigo tem meu capacete. E pra ter meu capacete, ele abriu mão de sua dignidade, furtou seu próximo, infringiu a lei, e abriu mão da própria dignidade pra furtar um capacete, pra vende-lo e talvez sustentar um outro vício, e continuar nesse ciclo enquanto sua vida (isso é vida?!) durar. Na realidade, eu acho que o mendigo não tem o capacete, o capacete tem o mendigo.

E diante, de tudo o que eu tenho, o capacete não é nada. Sendo assim, eu tenho tudo, não tudo o que eu quero, mas tenho tudo o que eu preciso, até porque o que eu quero pode não ser bom pra mim.

No final das contas, percebo que muitas vezes o ingrato sou eu, diante de tudo o que o Senhor me tem feito. 
Tiremos, pois, a tampa da ingratidão, e sejamos cheios de gratidão ao Senhor.

Na paz de Cristo, que Deus os abençoe ricamente.

André Oliveira