Nossas crianças

Sex, 07 de Outubro de 2011 15:38 Glauco
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Menina proibida pela mãe em Paulo de Frontin

Estivemos em um trabalho evangelístico em Engenheiro Paulo de Frontin e durante a programação passeamos pela cidade convidando crianças para o evento que acontecia na praça. Além do ensino da Palavra, havia brincadeiras, brindes e muitas atividades infantis. Íamos arrebanhando meninos e meninas pelas ruas e os levávamos para o local. Em uma casa que passamos vimos o entusiasmo de uma menina, talvez 7 anos, em querer ir conosco. Falamos com sua mãe que, apesar de titubear uma pouco, liberou a filha. Aproveitando o momento, um dos membros do nosso grupo falou de Deus para aquela mulher. Bastou as primeiras palavras para que ele puxasse a filha de volta. Ela permitiu que a filha brincasse mas, em se tratando de crentes, a menina estava proibida. Orei intensamente por aquela família, porque sei que aquela mãe, como muitas outras, não sabe o que faz. Privar uma criança do único caminho que a levará à salvação é um atentado à infância e à vida.

Adultização” - responsabilidade (também) dos amigos

Em outra oportunidade, há algumas semanas, cheguei na igreja e vi uma de nossas crianças com um relógio do homem-aranha. Era um relógio diferente, grande, a gente girava e, em cada posição ele projetava uma imagem diferente com laser. Confesso que nos altos dos meus 31 anos de idade fiquei entusiasmado com aquele brinquedo. Lembrei da minha infância e do quanto eu me divertia quando criança (ainda que não houvesse na época brinquedos a laser). Na semana seguinte, pra minha surpresa, o menino não estava com o seu relógio. Perguntei a ele:

Vale salientar que Mateus tem 10 anos de idade! Uma criança sendo chamada de “crianção”! Fiquei impressionado como a sociedade condena as pessoas por serem o que são e, simplesmente, essas pessoas aceitam esta condenação. De igual modo, crentes se envergonham de ser crentes porque outros os chamam de crentes. Como pode uma criança ser tachada de criança e, ainda assim, achar isso ruim?

Lembrei que algumas vezes, por conta de travessuras, me disseram que eu já era um rapaz e não deveria agir daquela forma. Aquela tentativa insólita era para que eu me envergonhasse e deixasse de agir como criança. Eu não era um rapaz, mas tentava sê-lo em uma atitude que beirava o ridículo. Lembro exatamente da minha postura tentando ser adulto na forma de falar e agir. Lembro também de adultos rindo de mim por conta disso.

Na semana seguinte uma criança, com os mesmos 10 anos, atira em uma professora e se mata. Aí eu pude entender o que estão fazendo com as nossas crianças. Já não bastasse os adultos cometendo atrocidades, agora estão “adultizando” meninos e meninas para que o mundo se torne ainda mais cruel. Estão tirando brinquedos de criança das crianças e lhes dando “brinquedos” de adultos.

Pensemos: se uma criança brinca com um revólver e dispara acidentalmente e se mata, trata-se de uma atitude infantil, ela não tinha noção do risco; se uma outra criança brinca com um revólver e, também acidentalmente, mata alguém, também se trata de uma atitude inocente e infantil por parte da criança, ela não tem noção da dimensão do prejuízo causado a outrem. Agora, para uma mesma criança, em sequência, portar uma arma, atirar contra alguém e em seguida dar cabo de sua própria vida, requer, no mínimo, um raciocínio que crianças não deveriam ter. Lembro-me dos meus dez anos: eu sabia o que era assassinato, também sabia o que era suicídio, mas em hipótese alguma minha mente me levaria a um destes atos, muito menos aos dois juntos. Eu era uma criança, e pensava como criança. Agia como criança e era visto como uma criança, mesmo que tentasse ser adulto. Brincava de super-heróis e queria salvar vidas, não tirá-las. Alguém que seguidamente mata (ou tenta) e se mata está conduzido por uma mentalidade racional distante da pureza de uma criança. Quem lhe mudou a mente? Quem lhe mostrou a opção racional de matar e, posteriormente, se matar para escapar da culpa do assassinato? Por que tiraram os brinquedos dele? Não sei da sua vida, mas estou certo de que aquele revólver poderia ser substituído por muitas coisas “menos letais”, quem sabe um relógio do homem-aranha. Não quero condenar os pais, até mesmo porque acredito que todos os responsáveis de hoje estão sufocados com toda a carga de influências negativas que o mundo tem derramado sobre as nossas crianças. A própria sociedade, como os amiguinhos do Mateus, tem tentado “libertá-lo” desta “carga” que é ser criança. Algumas vezes, nem os pais permitem ou estimulam que crianças sejam crianças. Cobramos responsabilidades intelectuais e emocionais de pessoas que deveriam estar brincando, e aprendendo que matar e/ou se matar, é errado. Quero que o Mateus brinque com o relógio do homem-aranha, não com uma faca.

 

Salvação

O que mais me preocupa nesta história é que não sei se esta criança vai para o céu. A bíblia nos garante que dos pequeninos é o Reino dos Céus (Mateus 19.14), remetendo a idéia de que há uma fase na vida em que a pureza de pensamento e a não consciência do pecado garante a salvação. Mas a mesma Bíblia diz que aos homicidas está reservado o lago de fogo (Apocalipse 21.8).

Não escrevo isto para escandalizar nem para levantar polêmica, mas é fácil entender que existe um limiar etário na nossa vida que nos tira da condição de salvo para não salvo, pura e simplesmente por conta da pureza da nossa mente. Não há como determinar exatamente quando isso acontece, mas estou certo de que cada pessoa tenha o seu período, visto que o amadurecimento mental é peculiar a cada indivíduo. Billy Graham se converteu aos 5 anos. Já eu, não sei se tinha maturidade para tal nesta idade. Agora, de um modo geral, a mente dos pequeninos está avançando de tal maneira, em função da inserção de conteúdos (na maioria das vezes maléficos), que este limiar é antecipado. Neste contexto, a sociedade pode estar mandando pessoas para o inferno cada vez mais jovens, porque com 10 anos de idade o menino não pode brincar com um relógio do homem-aranha e precisa se preocupar em ser mais “adulto”. A cobrança de hoje é muito maior que a de ontem. Espero do fundo do coração que eu esteja errado mas, caso não esteja, devemos voltar a infantilizar nossas crianças. Alguns podem até dizer que a própria atitude daquele aluno seria uma atitude infantil, visto que o fez sem muita noção, talvez na inocência, mas não há como negar que nossas crianças estão deixando de ser crianças cada vez mais cedo.

 

Infantilidade dos adultos

Com os adultos vejo um processo contrário: Quando deveriam amadurecer, crescer em conhecimento, preferem estagnar em uma pseudo-sabedoria achando que o que sabem é a verdade do que está acontecendo e suficiente para conduzir suas vidas e as dos seus. Um raciocínio muito elementar nos prova que está tudo errado: De um lado vemos praticamente todas as pessoas achando que sabem e entendem de tudo, julgando tudo e todos, esbanjando conhecimento pra quem esteja por perto (até parece que vivemos em um mundo de sábios) e, de outro lado, as coisas dando errado como nunca deram, um mundo cada vez mais violento, pessoas cada vez mais insatisfeitas, doenças da mente enriquecendo psicólogos e a vida humana em decadência. Das duas uma: ou o mundo não está ruim ou as pessoas não sabem de nada. Caso contrário caímos em um antagonismo. Se todo mundo entende de todas as coisas e têm solução pra tudo, necessariamente deveríamos viver em um mundo melhor e em constantes melhorias. Que o mundo está ruim é fato e o que nos resta é concluir que ninguém (ou pelo menos a maioria) não sabe de nada, e ficam blefando por aí como tolos, muitas vezes pra tentar justificar suas ignorâncias. São crianças na fé e no conhecimento, e não se dão conta disso. Parecem crianças resolvendo os problemas do mundo.

Disto posto vemos que poucas pessoas lêem a Palavra de Deus e, desta minoria, uma menor parte ainda lê profundamente para conhecer os desígnios mais profundos de Deus. Ou seja, a sabedoria que o mundo apresenta é humana! O que as pessoas discutem a todo instante nas esquinas, no trabalho e nas escolas está dirigida pelo coração do homem (que é enganoso, Jeremias 17.9). Justamente a Bíblia Sagrada, que deveria ser a fonte de todo o nosso conhecimento, é negligenciada e preterida em favor da palavra humana. Até a cobrança sobre nossas crianças é humana, porque a Bíblia nos ensina que crianças são crianças e assim devem ser até que deixem de ser crianças. Às crianças, de nossa parte, é dado apenas a educação e o ensino do caminho, para que não se desviem (Provérbios 22.6). E, se o que as pessoas sabem é humano, o que estão ensinando para nossas crianças? Tudo, menos o caminho.

Temos muito a aprender, e temos que começar aprendendo que não sabemos de nada. O apóstolo Paulo queria nutrir o povo com alimento sólido, mas o povo, em condição carnal, não estava apto a receber, e continuou sendo “amamentado” com leite (1 Coríntios 3.1-2).

 

Luta desigual

Interessante é perceber tanta gente nas igrejas bebendo “leite espiritual” aos domingos achando que aquilo os vai sustentar durante a semana. Cada dia é dia de buscar ao Senhor, cada dia é dia de conhecê-lo mais. A luta tem sido desigual: são algumas horas do fim de semana na presença de Deus e dezenas de horas ao longo da semana na presença do diabo. Por mais que saibamos que Deus é infinitamente mais poderoso, agirá na nossa vida aquele com quem mais nos relacionamos.

Pra completar a desgraça, durante a semana, o crente não quer ser visto como crente. Igualzinho a criança que não quer ser criança. Para estes, uma pergunta semelhante: Você é crente, budista, muçulmano, macumbeiro ou ateu? Se você marcou a primeira opção, deve assumir sua identidade, agir como tal e parar de usar “brinquedos” que não dizem respeito a sua opção religiosa. Quem é criança que use brinquedos e faça coisas de criança, quem é crente que use coisas de crentes e ajam como crentes. Devemos nos prostrar diante da luz de Cristo e perceber nossa infantilidade espiritual. Devemos buscar o crescimento que Ele quer para nós e não o que o mundo tenta nos impor com suas filosofias fantasiadas de sabedoria. Devemos assumir nossa posição de aprendizes para que cresçamos ao ponto de recebermos alimento sólido e, assim, alimentar a outros com a verdade de Deus e não a dos homens.

 

Dois tipos de crianças

Hoje temos que nos preocupar com dois tipos de crianças:

  1. as naturais: pequeninas, de baixa faixa etária, que tentam crescer em mentalidade (e estatura) antes do tempo e que não enxergam que ainda são crianças;

  2. e as espirituais: grandes, burras-velhas, que não crescem em espírito e que não querem enxergar que são crentes.

À semelhança destas cegueiras, Saulo não enxergava Jesus. Em função de tantas influências, ele achava que sabia alguma coisa. E foi preciso que a Luz de Cristo lhe abrisse os olhos espirituais, fechando os carnais (Atos 9.1-8). Somente após esta experiência Paulo pôde cumprir a vontade de Deus, e a partir daí crescer:

“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.” 1 Coríntios 13.11

Paulo percebeu a realidade e a necessidade de um amadurecimento.

 

Luz de Cristo

Saberemos o que somos quando nos prostrarmos diante da Luz de Cristo como Paulo o fez. E Luz é a Palavra, como está escrito. E a Palavra nos faz crescer, nos amadurece, nos ensina o caminho.

"Lâmpada pra os meus pés é a tua Palavra e luz para o meu caminho." Salmos 119.105

 

 

Mensagem pregada na Missão Batista em Padre Miguel, em 25 de setembro de 2011

Glauco Rocha Machado