Gênesis - Capítulo 6

Seg, 03 de Junho de 2013 20:58 Glauco
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"A maldade que o homem faz desagrada a Deus tanto quanto a maldade que o homem pensa. Logo, se o homem não faz, mas pensa, incomoda Deus como se tivesse feito."

"Deus decidiu então voltar atrás na sua criação. Se havia feito, seria desfeito. Se havia criado, seria destruído. A frase “porque me arrependo de os haver feito” pode facilmente ser entendida por 'porque volto atrás de os haver feito' ou “porque desfaço o que fiz'."

"Poucos encontrarão graça aos olhos de Deus para herdarem a vida eterna e muitos serão condenados à morte eterna, preparada também para o diabo e seus anjos rebeldes."

 

  1. E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas,

  2. Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.

  3. Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.

  4. Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama.

  5. E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.

  6. Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração.

  7. E disse o SENHOR: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito.

  8. Noé, porém, achou graça aos olhos do SENHOR.

  9. Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus.

  10. E gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé.

  11. A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência.

  12. E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.

  13. Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra.

  14. Faze para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com betume.

  15. E desta maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da arca, e de cinqüenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura.

  16. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro.

  17. Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará.

  18. Mas contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca, tu e os teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos contigo.

  19. E de tudo o que vive, de toda a carne, dois de cada espécie, farás entrar na arca, para os conservar vivos contigo; macho e fêmea serão.

  20. Das aves conforme a sua espécie, e dos animais conforme a sua espécie, de todo o réptil da terra conforme a sua espécie, dois de cada espécie virão a ti, para os conservar em vida.

  21. E leva contigo de toda a comida que se come e ajunta-a para ti; e te será para mantimento, a ti e a eles.

  22. Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez.


Os filhos de Deus

Neste capítulo já vemos uma corrupção generalizada. Os filhos de Deus tomando mulheres de forma desordenada, dentre aquelas que nasceram de povos que não serviam a Deus. Algumas boas referências bibliográficas, como Comentário Bíblico Moody, nos dá excelentes argumentos para acreditarmos que os filhos de Deus, neste caso, se tratavam de seres celestes (anjos ou mensageiros), que realmente coabitaram ou tomaram esposas da raça humana. Apesar de considerar e respeitar esta possibilidade, preferimos aqui uma interpretação mais simples, considerando que houve uma união entre a linhagem que fazia a vontade de Deus (filhos de Deus) com mulheres da linhagem que não servia a Deus (filhos dos homens). Nosso principal argumento é o fato de Deus ter “punido” especificamente o homem no verso 3, e não a corte celeste, após esta supostamente ter se corrompido. Em outras palavras, se no verso 2, filhos de Deus se tratasse de anjos ou mensageiros, não faria sentido uma indignação de Deus contra o homem no verso 3. Cientes das controvérsias existentes acerca deste fato, e assumidamente desconhecedores do que realmente acontecera, damos preferência a um entendimento que não gere especulações fantasiosas, porém crentes de que tudo o que nossos grandes estudiosos da Palavra tem encontrado de possibilidades deve ser considerado pelo nosso insignificante conhecimento.

 

A longevidade vem de Deus

Percebemos aqui que, num ato de repulsa em relação aos homens, Deus limita a vida humana em 120 anos. A Palavra nos traz a ideia de que aqueles longos tempos vividos pelo homem anteriormente estavam diretamente ligados à presença do Espírito de Deus sobre o próprio homem.

 

Os gigantes da antiguidade

Havia uma raça de gigantes valentes na terra, gerados a partir de uma relação ilícita entre os filhos de Deus e as filhas dos homens. Se consideramos a possibilidade de esses filhos de Deus serem seres celestiais (a palavra usada no original também pode ser traduzida por filhos dos deuses), verificamos que a história se assemelha muito com a mitologia grega, onde deuses se relacionam com mulheres gerando semideuses. A analogia é notável e, como a origem dos mitos da Grécia antiga tem raízes em muitas outras culturas que os gregos tiveram contato, é razoável imaginar que este episódio da historia tenha influenciado, de alguma forma, os mitos helenos, levando-se em consideração as diversas interpretações e a transmissões de informações ao longo do tempo e do espaço.

O fato de serem seres diferenciados (valentes, gigantes) é um forte argumento de que se tratava de algo não humano, fortalecendo a ideia de Moody e outros na possibildade de se tratarem realmente de seres celestes.

 

O arrependimento de Deus

Um importante ponto a ser salientado neste capítulo está ligado à onisciência de Deus. A maldade que Deus enxerga no homem não se limita aos seus atos, mas inclui seus pensamentos, seu coração. Vemos aqui, claramente no verso 5, que o Criador vê o coração ou a mente humana. Dentro deste alcance divino, aprendemos que uma simples mudança de atitude diante de Deus não basta, devemos ter mudança de mente. As inclinações das nossas faculdades mentais devem sofrer conversão, bem como, e tanto quanto, nossas atitudes. A maldade que o homem faz desagrada a Deus tanto quanto a maldade que o homem pensa. Logo, se o homem não faz, mas pensa, incomoda Deus como se tivesse feito.

Por conta deste desagrado de Deus em relação ao homem, o Criador se arrepende de sua criação. Este arrependimento não traz a ideia de mágoa por um erro cometido. Aliás veremos no Livro de Números que Deus não se arrepende (no sentido de pesar por faltas ou erros). O arrependimento aqui está ligado a uma mudança de atitude, voltar atrás, mudar o parecer. O plano inicial de Deus havia mudado. Se ele criou, agora a ideia era destruir, ainda que a criação tenha sido correta.

Vale aqui salientar que Deus sofreu com isso. Seu coração ficou pesaroso por conta deste arrependimento. Este ponto, tratado ao final do verso 6, já nos mostra a importância que temos para Deus, o quanto Ele nos ama. Se lhe pesou “o coração”, é perceptível que havia sofrimento por conta do sentimento que existia de Deus para com os homens. Deus estaria voltando atrás para algo que Ele havia feito de bom, conforme o seu agrado. E, certamente, é doloroso se desfazer de algo que se ama. Caso não amasse ou considerasse errada a criação possível seria não sentir qualquer pesar.

Deus decidiu então voltar atrás na sua criação. Se havia feito, seria desfeito. Se havia criado, seria destruído. A frase “porque me arrependo de os haver feito” pode facilmente ser entendida por “porque volto atrás de os haver feito” ou “porque desfaço o que fiz”.

A decisão de Deus em destruir a criação não está ligada ao próprio Deus, haja vista que o que Ele criara fora muito bom, mas está diretamente ligada à própria criação, porque o próprio homem construíra esta condição de merecimento. Não podemos, em hipótese alguma relacionar a destruição do homem a um suposto erro de Deus em ter criado a humanidade.

 

Noé também andava com Deus

É muito interessante perceber como Deus trata das questões envolvendo vida e morte. A obediência estará sempre ligada à vida e a desobediência à morte, independente de se tratar de vida e morte terrena ou vida e morte eterna, estas últimas por ocasião do juízo final. Adão e Eva viveriam para sempre no paraíso, mas depois de desobedecerem herdaram a morte na sua trajetória. Enoque resolveu em sua vida andar com Deus, e isto implica em obediência, implica também em agradar a Deus com seu testemunho, logo não passou pela morte. Aqui, Noé era homem justo e andava com Deus. Por conta disto encontrou um favor imerecido em Deus para ser poupado da morte vindoura. Favor imerecido, ou graça, porque toda a justiça e retidão de um homem não são suficientes para fazê-lo merecer alguma coisa diante de Deus, mas Deus com sua graça alcança aqueles que lhe agradam com seus testemunhos.

A condição de Enoque, e agora Noé, pode ser associada à salvação da humanidade. Poucos encontrarão graça aos olhos de Deus para herdarem a vida eterna e muitos serão condenados à morte eterna, preparada também para o diabo e seus anjos rebeldes.

Andar com Deus significa não andar com os homens. Isto traduz a ideia de separação, que está diretamente ligado ao conceito de santidade. Santo é algo ou alguém separado. Esta concepção será melhor entendida quando falarmos do Tabernáculo, que possuía um lugar Santo e um lugar Santíssimo.

O texto é bem claro quando diz que Noé era justo em suas gerações, portanto a graça sobre Noé alcançaria também seus filhos. Deus havia traçado um caminho prévio para o homem trilhar, mas houve corrupção da carne sobre a terra. O que acontecia neste momento era um desvio do caminho anterior que Deus tinha criado para o homem. Uma das ideias da palavra corrupção é alteração, ou seja, o caminho fora alterado, trazendo uma nova atitude de Deus sobre aqueles que adulteraram o caminho.

 

A arca

A arca é a grande prova do tipo de arrependimento de Deus que explicamos anteriormente. Se Deus tivesse sentido um pesar por um suposto erro cometido, Ele teria exterminado toda a humanidade, sem poupar nenhum homem sequer e, talvez, sem esboçar sentimentos. Mas resolveu poupar a Noé e sua família, como atestado de que a criação em si era boa. A conduta desta pequena amostra familiar nos garante que os resultados na vida do homem são consequências das decisões do próprio homem e não de uma falha na criação.

Deus apenas mudou de atitude em relação a uma grande parcela da humanidade, e não lamentou sobre aquilo que criara.

 

O dilúvio

Deus anuncia que mandaria um dilúvio de dimensões globais. Existem bons estudos científicos que relatam evidências deste grande acontecimento. Alguns estudiosos, porém, acreditam que, apesar das expressões “terra” e “toda a carne”, este teria sido um evento local de grande abrangência. Nossa posição, como nunca deixará de ser, é acreditar inicialmente no que a Palavra deixar mais claro, num entendimento mais simples e direto do texto. Logo, em se tratando de terra e toda a carne, cremos ter sido o dilúvio em todo o planeta.

No trecho em que Deus menciona quem seria destruído, Ele parece fazer uma gradação, que começa por animais de um modo geral, passa pelo homem, em seguida menciona os répteis, que naturalmente tem algum contato com a água, e por fim revela que até as aves dos céus seriam atingidas. Deus não se refere a uma galinha, ou qualquer ave que não voa. Ele faz questão de dizer "até as aves dos céus". Portanto, se até as pombam seriam atingidas, o que não seria da pobre galinha.

 

Macho e fêmea, para os conservares vivos

Mais uma vez, como se Deus não se exaurisse em mencionar, aqui vemos alusão aos dois gêneros criados. Desta vez o Criador os coloca como base para a própria existência. Ou seja, a razão para que houvesse macho e fêmea é para a conservação da vida. E, como Deus não se esgota em trazer à tona esta questão, também não nos esquivamos em declarar a importância do casal, do macho e fêmea, do homem e mulher, como base para a conservação das espécies, para que se dê continuidade à vida.

 

Nóe obedeceu, intregralmente

Noé fez exatamente como Deus ordenou. Não seguiu seu raciocínio, não usou “meios-termos”. A Palavra menciona a expressão “tudo”. Noé não procurou o que fosse conveniente aos seus olhos, muito menos deixou parte por fazer, mas seguiu as ordens integralmente. Atitudes como esta que diferenciam alguns homens dentre outros e, por consequência, diferençam os resultados em suas atitudes.

 

Conclusão

A obediência leva à vida. Noé, por obedecer a Deus, viveu. Em contrapartida, Adão, por desobedecer, morreu. Deus nos traz Palavras de Vida! Ele ainda nos mostra os pormenores, ou detalhes, do que devemos fazer. Assim foi com Adão quando o Criador ordenou o que ele poderia e não poderia fazer com todas as árvores. Ainda lhe fora dito as consequências da desobediência. Com Noé as orientações tinham a mesma natureza: uma ordem com descrição de tudo o que se deveria fazer e algo muito ruim que aconteceria, naturalmente reservado também a Noé caso não obedecesse. Hoje também podemos receber toda a orientação necessária para que tenhamos vida. Um exemplo disso é a leitura da Palavra de Deus, que contém tudo, exatamente tudo, o que precisamos saber para uma caminhada de vida com Deus. Outra forma de recebermos todas as orientação é no contato pessoal com o Criador, em oração, quando podemos dialogar qualquer assunto com ele. Sabemos que Deus não despreza um coração contrito, como veremos em Salmos, logo, dependendo do estado do nosso coração, podemos ter a garantia da atenção do Senhor numa tentativa de conversa.

Concluímos na certeza de que vale a pena obedecer. Num primeiro momento para que tenhamos vida, num segundo momento, não menos importante, porque o Senhor merece toda a nossa obediência e é digno da nossa submissão.

Glauco Machado